O que propõe a força-tarefa de startups criada para o desafio do pós-covid?
Nos últimos meses tenho discutido aqui no blog Govtech como a pandemia de covid-19 trouxe um impacto pouco esperado: ela tem sido uma verdadeira catalisadora da transformação digital dos governos.
Temos visto como sua utilização está mantendo o funcionamento de diversos serviços públicos, especialmente em um contexto no qual o isolamento social ainda é fundamental para frear o avanço do vírus. Há casos em que o uso de tecnologias digitais aponta como nosso país também é inovador. As experiências do Poder Legislativo, de combate ao vírus e os diversos serviços para cuidado da saúde demonstram isso.
Por todos esses fatos, não penso ser um exagero acreditar que, se a tecnologia tem sido fundamental para manter a continuidade de nossa vida durante a pandemia, ela será imprescindível para que possamos combater os efeitos negativos que ainda viveremos –pois sim, ainda viveremos "ondas" de impacto.
E arrisco a dizer mais: chegamos a um ponto em que não há mais volta. Um mundo sem teletrabalho, telemedicina ou a facilidade dos serviços públicos digitalizados não será mais tolerado. As soluções tecnológicas mostraram a sua relevância e vieram para ficar.
Pensando nisso, o BrazilLAB, primeiro hub de inovação do país dedicado a conectar startups ao governo, lançou o Força-Tarefa Covid-19, um programa de aceleração para empresas e suas soluções que possam ser aplicadas para enfrentar os desafios trazidos pela pandemia. Falei sobre a iniciativa há algumas semanas e hoje compartilho os resultados –ainda preliminares, mas muito animadores– desse movimento.
Tecnologia versus covid-19
Buscando soluções tecnológicas para enfrentar os desafios trazidos pela pandemia, a Força-Tarefa do BrazilLAB teve mais de 250 startups, pequenas e médias empresas manifestando interesse em participar. Ao todo, foram 131 inscrições recebidas — inclusive de países como Colômbia e Argentina. No Brasil, tivemos empreendedores de 18 estados, do Distrito Federal e de quase 50 cidades enviando suas inscrições.
Outros números também surpreendem e demonstram como o setor tem crescido em maturidade: 76% das empresas inscritas na Força-Tarefa já têm escala ou são consolidadas, quase 1/3 possui faturamento acima de R$ 1 milhão e 51% já vendem suas soluções para governos de todo o Brasil.
Esses números são inéditos no histórico de quase cinco anos do BrazilLAB e reforçam a posição de nosso país no cenário GovTech mundial: ocupamos o 4º lugar entre 16 nações no GovTech Index elaborado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
Inclusão produtiva, educação e digitalização do poder público
Ao todo, foram selecionadas 15 empresas e suas soluções que poderão ajudar governos de todo o país, especialmente municípios, nas áreas de educação, inclusão produtiva e digitalização do poder público. Esses temas foram escolhidos como prioritários porque devem concentrar os principais desafios que enfrentaremos nos próximos meses.
Para a área de educação foram selecionadas cinco empresas. Em um cenário em que mais de 95% das crianças estão fora da escola na América Latina e no Caribe devido à pandemia de coronavírus, segundo estimativas da Unicef, soluções digitais serão fundamentais, seja para dar continuidade às aulas, mas também para reduzir os déficits de aprendizado gerados pelo distanciamento.
A AgendaEdu, uma das selecionadas, oferece um serviço de gestão de informações para a escola: dados de cadastro dos alunos e informações como notas, chamadas e ocorrências e outros podem ser acessados por pais e profissionais pelo celular. A Árvore de Livros, que também participará da Força-Tarefa, é a maior plataforma de leitura digital do Brasil e disponibiliza aos estudantes um acervo de mais de 30 mil títulos.
A pandemia destruiu 7,8 milhões de postos de trabalho no Brasil até o mês de maio. Pensar a inclusão produtiva de trabalhadores, especialmente aqueles que se encontram na informalidade, é uma questão estratégica para garantir a retomada econômica. Grande parte desse esforço passa pela garantia de acesso ao crédito e é esse o problema que a Neon, aprovada no processo de seleção, e uma das principais fintechs do país, pretende resolver: ela é um banco 100% digital, que possibilita o acesso à crédito e serviços de investimento.
A pandemia mostrou a relevância de um governo 100% digital. Uma das principais medidas para combater a crise econômica, o auxílio emergencial, enfrentou diversos desafios para ser implementada. Ao mesmo tempo, sua realização só foi possível graças à rápida incorporação de tecnologias: mesmo com todos os seus problemas, o aplicativo da Caixa Econômica Federal foi o responsável por garantir que os mais de 65 milhões de brasileiros pudessem receber o benefício governamental.
A experiência também mostrou a importância de garantirmos uma identidade única e digital para todos os cidadãos, seja para agilizar a concessão de benefícios, mas também para combater eventuais riscos de fraude. Esses são os desafios que ClickSign, uma das maiores empresas de assinatura digital do país, e VU Security, especialista em identidade digital, buscam enfrentar. Ambas também fazem parte do grupo da Força-Tarefa Covid-19.
A seleção das startups e empresas que participarão do programa é apenas o começo. Pelas próximas nove semanas, o grupo cursará módulos de formação em experiência do usuário, avaliação de impacto social e compras públicas. Também terão acesso a um grupo seleto de mentores e especialistas e poderão apresentar suas soluções à rede de municípios e gestores públicos parceiros do BrazilLAB –vale lembrar que todas as atividades da Força-Tarefa Covid-19 serão realizadas 100% online.
E o mais importante: essas empresas estarão preparadas e motivadas a atuar junto ao setor público, oferecendo soluções tecnológicas que podem trazer o impacto positivo que tanto precisamos. A jornada apenas começou, mas promete muito!
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