Topo

Letícia Piccolotto

O que empreendedores já disponibilizaram para combater o coronavírus

Letícia Piccolotto

28/03/2020 04h00

 

Pixabay

Na semana passada, falei sobre as lições que aprendi com a epidemia de coronavírus. Uma delas tem sido de longe a mais impactante. A profunda crise que vivemos e os efeitos que ainda estão por vir me fazem crer que é nos momentos de maior dificuldade que nós, seres humanos, conseguimos demonstrar a nossa verdadeira natureza. E ela está presente nas diversas ações de solidariedade, na confiança e cooperação que temos visto entre pessoas, empresas e nações nos últimos dias.

São muitos os exemplos da potência que essa combinação traz, especialmente considerando todos os trabalhadores que mantêm a sua rotina neste período. As equipes de profissionais da saúde – médicas, enfermeiras, psicólogas, fisioterapeutas – têm trabalhado cotidianamente para promover o bem-estar daqueles que foram atingidos pela doença ou pelo temor que ela tem causado. Diversos países têm compartilhado pesquisas, técnicas e estratégias para enfrentar os impactos do coronavírus. Isso sem falar nos milhares de profissionais que garantem a manutenção de serviços essenciais: agentes da segurança pública, assistentes sociais, coletores de resíduos e os trabalhadores do comércio, como supermercados e farmácias. 

Os empreendedores sociais também fazem parte dessa corrente e eles têm sido fundamentais para enfrentar os desafios dos governos, inclusive em momentos de profunda crise.

Brasil, país de empreendedores

O Brasil é um dos países com maior número de negócios estabelecidos, de acordo o ranking Global Entrepreneurship Monitor (GEM), para os anos de 2019/2020. Segundo dados da Mckinsey, 39% da força de trabalhadores entre 18 e 64 anos é empreendedora em nosso país. Também somos referência quando o assunto é empreendedorismo de impacto, ou seja, negócios que não só geram lucro, mas trazem benefícios coletivos. Um levantamento do Sebrae/PNUD, do ano de 2017, indica que havia mais de 800 empreendimentos em nosso país nessa categoria. 

Não há como negar: nós temos uma veia empreendedora e uma vocação para enxergar oportunidades nas mais diversas áreas. 

Há 20 anos trabalho no universo do empreendedorismo e pude acompanhar as trajetórias de nascimento e crescimento de diversas organizações. Sempre me chamou a atenção como a inventividade, a resiliência, a coragem e a paixão são ingredientes presentes entre aqueles que se dedicam a atividade de construir negócios e fazê-los prosperar em contextos quase sempre pouco estimulantes e favoráveis. 

Desde que fundei o BrazilLAB, em 2015 – e também virei uma empreendedora da pauta GovTech – tive a oportunidade de conhecer as soluções apresentadas por startups que, não só se dedicam a enfrentar os desafios de iniciar um novo negócio, mas decidem fazê-lo junto ao setor público. E os últimos dias também têm me mostrado como esses empreendedores e empreendedoras estão comprometidos com o bem-público.

Freepik

Inovação, tecnologia e solidariedade para combater a pandemia

A força empreendedora tem se mobilizado para enfrentar o coronavírus no Brasil. 

Temos visto diversas empresas se reorganizando para ofertar bens e serviços essenciais, seja a produção de respiradores – como é o caso da Tesla – a criação de fundos de emergência para pequenos empreendimentos – como fez o Facebook – ou a entrega de álcool em gel para hospitais – uma iniciativa liderada pela Ambev. 

E as startups também têm participado desse esforço conjunto. É o que mostra a Associação Brasileira de Startups (ABSTARTUPS), que criou a campanha #StartupsVsCovid19. A partir dela, já foram mapeadas mais de 60 empresas que desejam doar suas soluções para as mais diversas áreas: de trabalho remoto e colaborativo, passando por plataformas para compras em supermercado, até assessoria jurídica. 

Outra iniciativa está sendo liderada pelas startups Colab e Epitrack. Juntas, elas criaram o Brasil sem Corona, um movimento que tem como base a estratégia de vigilância epidemiológica colaborativa. Ao fazer o download do aplicativo Colab (disponível para Android e iOS), qualquer cidadão pode reportar informações sobre si, por exemplo, se está com sintomas do covid-19, ou se teve contato com alguma pessoa doente. Essas informações são sistematizadas e poderão informar os serviços de saúde sobre a doença. 

Nos últimos dias, o BrazilLAB também tem estado em diálogo com sua rede de empreendedores. São GovTechs buscando oferecer suas soluções gratuitamente, especialmente aquelas que atuam no ramo das healthtechs – startups com soluções para a saúde pública. 

Como a Up Saúde, que está atuando junto aos municípios, com salas de situação e serviços de monitoramento, teleconsultoria e teleorientação para a população. E a Universaúde, que compartilhou sua ferramenta de chat online para tirar dúvidas da população sobre a doença – e está disponível 24 horas por dia. Ou ainda a Red Fox Tech que liberou acesso gratuito à sua plataforma de gestão de agenda e comunicação com o corpo médico para todas as instituições de saúde que precisem de ajuda na organização de plantões e escalas médicas.

Diversas entidades da sociedade civil também têm se organizado para contribuir com ações neste momento de crise. É caso da União SP, uma iniciativa que congrega diversos atores em prol de doações que serão convertidas em cestas básicas de alimentação e higiene. Iniciativa semelhante vem sendo desenvolvida na cidade do Rio de Janeiro pelo Banco da Providência, Instituto Ekloos e Instituto Phi. As três organizações lançaram o movimento Rio Contra Corona. As doações em dinheiro são destinadas para a compra de cestas de produtos básicos que serão distribuídas para moradores de mais de 15 comunidades cariocas.  

Há também ações especialmente direcionadas para os municípios, que serão grandes afetados pela epidemia. Liderada pelo Impulso Gov, IEPS e Arapyaú, o Corona Cidades é uma ferramenta prática que orienta sobre as principais medidas a serem tomadas no combate ao vírus em um formato "passo a passo". Além disso, são apresentados exemplos de boas práticas, como a criação de um gabinete de crise, estratégias de comunicação junto à população e ações específicas de saúde e assistência social. 

São informações, serviços e produtos que estão salvando vidas. 

A união é a nossa maior força

Continuo a acreditar que não podemos estar sozinhos nesse difícil momento que vivemos. E tampouco sairemos dele sem um trabalho conjunto e coordenado. Cada minuto e cada ação são preciosos para mitigar os efeitos perversos da pandemia. 

As boas experiências têm surgido com uma velocidade e disposição surpreendentes e precisamos canalizar toda a força empreendedora em prol das ações de enfrentamento ao covid-19. 

A participação de cada um e de todos nós nunca foi tão importante. 

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.