Habilidades das mães devem ser aproveitadas em tecnologia e inovação
Amanhã celebramos o dia das mães. Essa é uma data fundamental para muitas pessoas e que, por conta da pandemia de coronavírus, será celebrada de uma forma diferente e com um misto de sensações também particular. Mas para além de ser um momento emotivo e de celebração de nossas figuras maternas e de seus tantos feitos, podemos e devemos também fazer desse dia um espaço de reflexão sobre a maternidade e suas tantas intersecções na vida das mulheres.
Ao longo do últimos anos, busquei equilibrar minha vida profissional com os demais papéis que exerço como mulher, dentre eles, a maternidade. Liderei instituições, fundei o BrazilLAB, o primeiro hub de inovação e tecnologia do Brasil para governos, e também sou mãe de três crianças – Clara, Sofia e Vinícius.
A maternidade é um tema especialmente sensível para mim. Entendo e vivencio todos os seus desafios. Nos últimos dias, em que a vida se transformou completamente, eles ficaram ainda maiores e mais presentes: minha casa e minha rotina perderam a sua cadência e, sem a minha valiosa rede de apoio, tive que assumir as atividades cotidianas do trabalho e todas aquelas do cuidado com a casa e com as crianças, especialmente o homeschooling, algo que merece um capítulo à parte.
No evento que realizei em março em celebração ao dia das mulheres, tive a oportunidade de discutir sobre todos esses temas – empoderamento feminino, os desafios da maternidade, trabalho e tecnologia – e hoje tenho clareza de que minha experiência pessoal é parte de um desafio que é coletivo e vivenciado por muitas mulheres cotidianamente. Considerando a relevância e urgência do tema, e aproveitando este espaço e a simbologia da data, nada como relembrar e discutir a importância de termos mais mulheres e mães no mundo da tecnologia.
Definindo o desafio
A equidade de gênero tem sido um tema muito debatido nos últimos tempos. Em março, discuti sobre como a tecnologia pode ser uma aliada fundamental para alcançar o empoderamento feminino. E também como ainda estamos distantes dessa realidade, já que as mulheres são sub-representadas nessas áreas, seja como estudantes, profissionais ou nas posições de liderança das organizações.
Para relembrar a seriedade do desafio, segundo pesquisa da Softex de 2019, a participação de mulheres nas áreas de Core TI diminuiu 4% entre 2007 e 2017 – no mesmo período, houve um aumento de 144% na presença de homens. As mulheres representam apenas 12,89% dos diretores de áreas da Core TI no Brasil. Além disso, ocupam somente 11% dos postos de liderança em empresas de tecnologia em todo o mundo, segundo dados da consultoria McKinsey.
Se as mulheres já encontram desafios para atuar no mercado de tecnologia, os obstáculos tendem a se tornar ainda mais complexos para as profissionais que se tornam mães. Essa é uma discussão pouco presente e, em certa medida, também é invisibilizada, já que não há estudos em larga escala sobre o problema. Mas não faltam relatos de mulheres que atuam nas áreas de tecnologia e que tiveram que fazer escolhas entre trabalho ou a maternidade – ainda que esses dois objetivos não devessem ser mutuamente excludentes.
Para onde quer que olhemos, ainda temos um longo caminho para alcançar uma participação equitativa. Mas há muitas formas de transformar esse cenário – para melhor.
Problema de todos, solução deve vir de cada um
"É preciso de uma vila para criar uma criança", diz o provérbio africano. Assim, não podemos avançar sem reconhecer que a baixa participação de mães na tecnologia é um problema de todos e não somente das mulheres.
Afinal, diversificar esse mercado traz impactos para a qualidade das soluções geradas – por exemplo, a redução de viés de gênero – assim como resultados econômicos: 144 países em desenvolvimento podem aumentar o PIB em US$ 8 trilhões, se for garantida a participação de 600 milhões de mulheres e meninas nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, segundo a ONU Mulheres.
E há oportunidade e demanda para que toda a sociedade possa contribuir para esse objetivo. Governos podem promover ações de incentivo à participação de mulheres e mães no mercado de trabalho. Empresas podem adotá-las: desde a licença maternidade remunerada, já prevista em lei, até práticas mais inovadoras, como horário flexível, auxílio financeiro, espaços de cuidado e aleitamento e também a licença paternidade ampliada, por exemplo.
E podemos todos fortalecer a participação das mulheres na tecnologia, especialmente a partir de três ações.
Primeiro, desmistificando a ideia de que o trabalho na tecnologia, sobretudo em postos de liderança, não é um "lugar" para elas. Para isso, podemos investir na divulgação de trajetórias profissionais de mulheres que já trilharam esse caminho e possam ser uma inspiração positiva.
É também importante garantir que os espaços de trabalho sejam receptivos às mulheres-mães: que tenhamos equipes diversas, com horários adequados e compatíveis com a maternidade, além de políticas específicas de desenvolvimento profissional.
Por último, devemos reforçar a importância de que as mulheres possam ter acesso à educação contínua e de qualidade, assim como condições para sua independência financeira.
As mulheres que são mães têm diversas habilidades e competências que podem ser muito bem aproveitadas no mundo profissional, desde resiliência, capacidade de comunicação e principalmente o exercício da liderança. Podemos e devemos avançar para garantir uma maior participação delas no mundo profissional – não há dúvidas de que todos nós só teremos a ganhar com isso.
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