Topo

Letícia Piccolotto

Digitalização de serviços tem potencial de subir PIB e economizar dinheiro

Letícia Piccolotto

30/11/2019 04h00

A digitalização de serviços pode trazer ao Brasil um aumento de 5,7% do PIB (Dylan Gillis/Unsplash)

O nosso blog GovTech está comemorando o seu primeiro aniversário. Desde a primeira vez que escrevi aqui sobre como novas startups e soluções podem impactar o setor público no Brasil e mundo afora, muita coisa aconteceu. 

Ter a oportunidade de compartilhar com mais e mais pessoas o que essa revolução significa – e qual é a sua importância – tem sido o propósito de meu trabalho e, a cada vez mais, uma satisfação. 

Vale retomar para aqueles e aquelas que estão lendo esse blog pela primeira vez: as chamadas GovTechs são startups que se dedicam a construir e oferecer produtos ou serviços para que o setor público possa transformar sua atuação e impactar positivamente os cidadãos. Elas são feitas por pessoas que acreditam no poder transformador das tecnologias e no legado que as suas soluções podem trazer para as mais diferentes políticas públicas – de educação a saúde; de meio ambiente até empreendedorismo e inclusão social.  

E não só de desejos se faz o poder das novas tecnologias. Segundo dados do relatório "Estratégia Brasileira para a Transformação Digital", a digitalização de serviços pode trazer ao Brasil um aumento de 5,7% do PIB e economizar até 97% dos custos de atendimento. Para além dos benefícios financeiros, a transformação digital traz inúmeros resultados para a qualidade dos serviços e para ampliar a confiança de cidadãos na atuação governamental. Os ganhos são muitos – e para muitos. 

Foi por isso que, há três anos e meio, nasceu o BrazilLAB – uma plataforma pioneira para incentivar o ecossistema de GovTechs, promovendo a conexão de startups, suas tecnologias e o setor público, fortalecendo os estados, municípios e o governo federal. Tem sido muito gratificante acompanhar o desenvolvimento desta pauta.

Há cada vez mais pessoas discutindo sobre tecnologia e inovação e um interesse legítimo por propor soluções que possam melhorar os governos. Alguns momentos sintetizam a nossa atuação e sinalizam o quanto estamos trilhando um caminho positivo. Na última semana tivemos um desses momentos: nosso 4º Ciclo de Aceleração acaba de encerrar suas inscrições com números importantes. Foram, neste ano, nada menos que 294 startups se candidatando a essa oportunidade de novos negócios – e de imprimir um importante legado para o país.

Desafios brasileiros e mundiais

A cada programa de aceleração lançado, o BrazilLAB seleciona temas (ou verticais) para que sejam tratados pelas startups. Em 2019, focamos três desses desafios: Smart Cities e UrbanTechs, Habilidades na Sociedade 5.0 e Eficiência na Gestão Pública. São linhas de ação criadas para chamar os empreendedores que atuam com essas demandas – e melhorar nossas cidades, nossos profissionais e a administração de nossos governos. 

Também são temas que, em outras partes do mundo, já se tornaram uma conversa real entre o poder público, empresas de tecnologia tradicionais, startups disruptivas, agentes de governo e o cidadão. Talvez por isso mesmo, entre os aplicantes deste ano, surgiram ideias vindas da Estônia, Colômbia, Finlândia, Argentina, Portugal e da Índia. Juntamente com Reino Unido, Japão e, claro, os Estados Unidos, essas são nações que perceberam o poder de trazer a tecnologia para os serviços públicos – economizando recursos, acelerando processos, privilegiando a transparência e priorizando a qualidade.

Adeolu Eletu/ Unsplash

As evidências dos números

Os números do programa permitem também outras "leituras" a respeito desse setor, hoje, no Brasil. Dentre as 294 startups inscritas, 25% já venderam suas soluções para governos; além disso, 44% delas já possuem um nível considerável de maturidade, já que alcançam faturamento de recursos em sua operação. Esses números são extremamente positivos e demonstram que o ecossistema de GovTechs tem se consolidado nos últimos anos – mas ainda há muito espaço para fortalecer essas organizações. 

Ficou registrado também um maior volume de aplicantes com empresas sediadas no estado de São Paulo (35%). Apesar de as demandas por serviços serem nacionais e de ser extremamente saudável que soluções surjam em regiões diferentes – contemplando, assim, desafios próprios de cada localidade -, o sudeste do Brasil ainda se consagra como foco das startups (o Rio de Janeiro foi o segundo estado com mais candidatos, com 10% das inscrições).

O Programa de Aceleração do BrazilLAB contribui para que as startups possam escalar suas soluções e iniciar a contratação pelo setor público – um processo que pode ser bastante complexo para aqueles que não conhecem o contexto, a legislação e os requisitos para tal. 

Os resultados são concretos: a grande vencedora da edição de 2018, a startup GESUAS, já escalou sua solução para a gestão das políticas de assistência social e hoje está presente em mais de 90 prefeituras, impactando mais de 1,8 milhão de usuários em todo o país, além de 800 mil famílias e mais de 2.500 gestores públicos. 

As outras startups vencedoras do 3º Ciclo de Aceleração são igualmente grandes cases de sucesso. A Fábrica de Negócio, implementou uma solução para auditar a folha de pagamentos de Recife, gerando economia de R$ 10 milhões. A UpSaúde, consiste em um programa de telemedicina para a gestão do SUS com grande impacto na redução dos custos em saúde. 

Em breve, uma seleção de startups

O Programa de Aceleração do BrazilLAB terá seus selecionados divulgados em 13 de dezembro. Depois disso, serão quatro meses de módulos de capacitação sobre diversos temas – como experiência do usuário (UX), legislação e impacto social – passando por palestras, workshops, mentorias com especialistas e até a chance de estar junto aos gestores de mais de 30 municípios parceiros da plataforma.

Desse grupo sairá um grande vencedor, que receberá assessoria, investimentos, orientação e uma viagem para o Vale do Silício, nos EUA – berço de inovação tecnológica e que pode trazer mais inspiração para criar e evoluir. Mas quem vai ganhar, de fato, é a sociedade. Lembram do aumento de 5,7% no PIB e da redução de 97% dos custos com atendimento? É desse Brasil e dos resultados das GovTechs que queremos falar cada vez mais. E do qual também queremos ouvir falar.

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.