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Conheça as CivicTechs, startups que estreitam o elo de cidadãos e governos

Letícia Piccolotto

15/06/2019 04h00

No Brasil, o conceito de CivicTech ainda é novo, mas essas startups já têm seus trabalhos reconhecidos em muitos países – como é o caso da High Resolves, um exemplo no setor de educação

É bacana ver uma startup nascer, crescer, trazer inovação e soluções criativas de tecnologia para resolver problemas complexos que impactam no nosso dia-a-dia como consumidores. Nada melhor do que comprar em um clique a sua lista mensal de supermercado, encomendar algo para comer ou até programar uma viagem. Tudo isso sem sair de casa. São mudanças interessantes as que estamos vivendo. Mas tudo isso ganha contornos ainda mais empolgantes quando notamos as mudanças e os benefícios que a tecnologia pode trazer para o engajamento cívico da população. E por isso é importante entender o impacto das CivicTechs e suas ações.

Podemos chamar assim as startups que criam uma "tecnologia cívica" que são soluções tecnológicas para melhorar o relacionamento entre pessoas e governo, dando às pessoas mais voz para participar das decisões públicas e/ou para melhorar a prestação de serviços. Nas CivicTechs, os idealizadores emprestam seus talentos, muitas vezes até voluntariamente, para tornar estas interações entre população e governo mais ágeis e precisas.

Em muitas partes do mundo, elas já recebem atenção; no Brasil, esse conceito é relativamente novo, mas as startups já apresentam os primeiros resultados e, como negócios, também estão ganhando reconhecimento.

Serviços eficientes, que tenham impacto social, melhorem a qualidade de vida das pessoas com soluções escaláveis, sustentáveis e com custo acessível: é esse o filão das CivicTechs. Em comparação com as GovTechs, que reúnem uma ampla gama de tecnologias fornecidas aos governos para aumentar a eficiência de suas operações internas, as CivicTechs têm seu foco um pouco mais "aberto": informando, engajando e conectando os cidadãos com seus governos e uns aos outros para, em geral, melhorar o bem público.

É o que faz, por exemplo, a SeeClickFix, startup norte-americana que desenvolveu uma plataforma para os moradores relatarem as preocupações da vizinhança (como pichações, buracos, interrupções de luz) aos governos municipais – que usar o software, então, para acompanhar o progresso na solução do problema e comunicar de volta aos residentes. O SCF permitiu o relato e a resolução de mais de 4 milhões de problemas até o momento em centenas de cidades nos EUA.

O impacto do bem

Às vezes, a tecnologia com foco cívico conecta o cidadão com o governo, como é o caso da SeeClickFix, em outros ela prepara o cidadão para uma melhor interação entre si e com o governo. Nesse caso, talvez a High Resolves seja um dos exemplos mais bacanas em todo o mundo

A statup foi fundada em 2005 por Mehrdad e Roya Baghai em Sydney, Austrália, que começaram como uma experiência na escola do filho do casal. Hoje, os alunos experimentam uma série de programas que constroem habilidades de tomada de decisão e incentivam o pensamento crítico sobre mudança social. Até agora, a High Resolves já se expandiu para 350 escolas australianas e engajou mais de 200 mil estudantes.

E se esse crescimento pela educação é um dos maiores ativos que uma comunidade pode receber, o Cidade em Jogo é uma CivicTech nacional para ser celebrada. Desenvolvida pela Fundação Brava, a plataforma leva a discussão política e social até a sala de aula de um modo muito criativo.

No jogo, o aluno pode escolher cenários para trabalhar (um município no litoral ou uma metrópole, por exemplo) e é desafiado a decidir como sua cidade lidará com as finanças, infraestrutura, a população em geral. Cada tomada de decisão mostra seu impacto – abrindo chances de os jovens debaterem sobre impostos, transportes, saúde e muitos outros temas que levam ao uso de disciplinas como biologia, matemática, geografia, história.

O Cidade em Jogo foi reconhecido internacionalmente e selecionado como finalista do Fórum de Inovação Social no Setor Público, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a partir de mais de 100 cases enviados – é o único representante brasileiro entre os seis finalistas. O objetivo do Fórum é reconhecer práticas relevantes para os princípios do governo aberto de transparência, integridade, responsabilidade e participação de cidadãos que possam ser replicáveis para outros países e governo. Vale a pena votar (clicando aqui).

Apanhar um problema, dissecar seus desdobramentos, chegar a uma solução clara, usar as ferramentas tech para levar aquela solução até os habitantes de uma cidade ou país. É bonito ver as ações das CivicTechs – e apreciar startups com vocação para nos levar a viver nosso melhor como povo hoje e no futuro.

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Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.