Brasil pode mudar de mau exemplo a líder global pela vacina contra covid-19
Desde o início da crise trazida pela covid-19, o Brasil tem figurado de maneira negativa no cenário internacional. Não só somos um dos epicentros da pandemia, como também ilustramos o exemplo amargo de uma condução equivocada de políticas públicas para enfrentar a crise humanitária trazida pelo vírus.
Vemos, diariamente, uma baixa adesão às medidas que poderiam garantir o controle da contaminação, como o isolamento social, além da relativização da gravidade da doença, e também comportamentos oportunistas, descoordenados e irresponsáveis por parte das lideranças políticas em diversos níveis.
Todos esses desencontros tiveram resultados concretos: somos o segundo país do mundo com o maior número de mortos e os números de vítimas da covid-19 só fazem aumentar diariamente. Isso sem falar nos impactos econômicos e sociais, com uma desocupação média de 14% e a estimativa de que o PIB decresça em 8% até o final do ano.
Embora o cenário seja difícil, temos a possibilidade de revertê-lo. Enquanto o mundo se volta em busca de uma vacina que possa controlar a pandemia e nos devolver à normalidade –seja ela qual for– somos uma das principais nações no esforço de imunização contra a covid-19.
Brasil, líder em imunização
O Brasil é referência mundial quando o assunto é vacinação. O Programa Nacional de Imunização (PNI) existe desde a década de 1970 e foi responsável pela erradicação de doenças graves, como poliomielite, varíola e rubéola. Ao todo, ele garante o acesso a 19 tipos de vacinas, desde o nascimento até a idade adulta, de forma gratuita e universal.
O país também é referência na produção de vacinas graças às suas instituições, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com sua unidade Bio-Manguinhos, e o Instituto Butantan.
Toda essa potência foi determinante para a escolha do Brasil como uma das nações nas quais seriam realizados testes da vacina contra o coronavírus. Também contaram para a decisão as características do país e o estágio de avanço da pandemia: somos uma nação com população numerosa e disseminação da doença em ascendência.
Dentre as 26 propostas de imunização que já se encontram na fase de testagem clínica, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma delas é altamente promissora e está sendo testada no Brasil: a vacina elaborada pela Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca, cujos testes no país estão sendo liderados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Há expectativa de que a eficácia da imunização da vacina Oxford-AstraZeneca já possa ser comprovada no ano que vem. Mas isso é só o começo. Isso porque, embora seja decisivo, comprovar a validade do medicamento é apenas o primeiro passo de um longo caminho para garantir que todos tenham acesso à proteção.
União é força
Diversas medidas têm sido adotadas para possibilitar a produção de uma vacina em larga escala, como a destinação de recursos federais para a Fiocruz/Bio-Manguinhos, além de acordos de transferência da tecnologia entre as instituições.
E como temos visto ao longo da crise trazida pelo coronavírus, a união de forças também será fundamental para garantir a imunização. Para viabilizar esse esforço, uma coalizão formada por empresas e fundações –Ambev, Americanas, Itaú Unibanco (Todos pela Saúde), Stone, Instituto Votorantim, Fundação Lemann, Fundação Brava e a Behring Family Foundation– se juntaram em uma coalizão para equipar e financiar a infraestrutura necessária à produção da vacina Oxford-AstraZeneca contra a covid-19.
Unindo suas competências técnicas e a doação de mais de R$ 100 milhões, o grupo será responsável pela construção da fábrica brasileira que será integralmente doada à Fiocruz. O investimento incluirá todos os equipamentos laboratoriais e industriais de ponta necessários à operação, e a previsão é que a unidade esteja pronta até o começo de 2021.
A fábrica é um legado que será doado à Fiocruz e poderá trazer autonomia ao Brasil na produção de vacinas para futuras epidemias –um cenário que vivemos todos os anos, especialmente com as doenças tropicais, como dengue e chikungunya.
Estamos diante de um caso concreto que exemplifica algo que sempre ressalto por aqui: a importância do investimento na ciência e tecnologia e a potência que a parceria público-privada tem para transformar realidades e promover mudanças positivas para toda a sociedade.
Um futuro promissor – mas é só o começo
Não há como mensurar o impacto positivo que uma imunização contra a covid-19 pode ter para as nações. Os investimentos necessários para a testagem e produção da vacina são pequenos se comparados aos benefícios econômicos e sociais que teremos uma vez que a maior parte da população esteja protegida contra a doença.
Essa realidade nunca esteve tão perto. Alternativas promissoras avançaram rapidamente e, num esforço sem precedentes, é possível que tenhamos uma vacina já em 2021.
É verdade que os desafios ainda são muitos, assim como as dúvidas e incertezas. Por exemplo, ainda temos que avançar na compreensão sobre a eficácia da vacina para todos os públicos, isso sem mencionar os desafios de produção, envase e distribuição em um país de dimensões continentais como o Brasil.
Mas não há dúvidas de que estamos diante de uma oportunidade histórica. Podemos nos redimir de nossa atuação desastrosa frente à pandemia, nos tornando uma liderança global em busca da vacina para o grande mal do século XXI. Temos total condição de fazê-lo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.