Tecnologia na educação não é trocar caderno por tablet. Veja o que pode vir
A tecnologia tem transformado todas as dimensões de nossas vidas. Não poderia ser diferente na educação, principalmente considerando que as crianças e adolescentes da chamada geração Z – os nascidos entre meados dos anos 1990 até o início do ano 2010 – são os principais usuários de tecnologias e da internet. Mas, para além de serem recebedoras de novos dispositivos e da conexão, as crianças precisam ser guiadas a promover seu próprio futuro. Esse, sim, é um presente de valor inestimável – e não apenas para esse Natal.
Dados do Cetic.br colhidos pela pesquisa TIC Kids 2018 mostram como as crianças e jovens estão conectados: 77% das crianças de 9 a 10 anos acessaram a internet nos últimos 3 meses; esse número salta para 94% quando analisada a faixa etária de 15 a 17 anos. Em todas as regiões do país, o acesso ultrapassa os 70%, com destaque para a região Sul, em que 95% de crianças e adolescentes de 9 a 17 tiveram acesso à rede.
Esses dados podem soar como uma ameaça para os que acreditam que as tecnologias têm transformado as interações humanas – deixando a todos nós como seres distantes e até mesmo alienados da realidade. Mas o cenário é positivo: segundo um levantamento da J‑PAL North America, organização ligada ao MIT (Massachusets Institute of Technology), há evidências científicas de que o uso de tecnologias traz impactos positivos para ampliar o engajamento das famílias e o aprendizado de estudantes, sobretudo em matemática.
A verdade é que, quando estimuladas com a tecnologia correta e com a orientação educativa adequada, crianças e adolescentes podem se beneficiar da ampla variedade de recursos e aplicações trazida pelas soluções tecnológicas. Educação e desenvolvimento cognitivo que abracem e envolvam a tecnologia são, aliás, um fenômeno que já surge com força em muitas escolas brasileiras. Mas quase sempre aquelas da esfera particular.
Acontece que as escolas públicas, por sua vez, têm um papel fundamental na inovação e no impacto social. Segundo dados do Censo Escolar de 2018, das quase 182 mil escolas de educação básica existentes no Brasil, 141,3 mil são públicas (aproximadamente 77%). O ensino público é amplo e tem a capacidade de alcançar grande parte das crianças e jovens do país. Cada aluno ou professor que se vê envolvido em um projeto de inovação tech traz boas ideias para a comunidade – pois, é claro, essas ideias vão refletir demandas que representem a realidade daquelas pessoas.
Para sermos mais precisos, a tecnologia aplicada ao aprendizado é capaz de mudar até o básico: manter as crianças interessadas nos estudos e prevenir que os adolescentes se sintam desestimulados e abandonem as aulas, por exemplo. Ela também é essencial para formar cidadãos que possam contribuir para o futuro do país. Nesse sentido, o panorama é preocupante: uma avaliação do Brookings Institution, organização sem fins lucrativos que estuda políticas públicas situada em Washington DC (EUA), se o setor educacional permanecer em sua trajetória atual, até 2030, metade de todas as crianças e jovens do mundo não terão as habilidades básicas de nível secundário necessárias para prosperar.
Todos conectados pela educação
Ainda que os dados mostrem uma alta conectividade de crianças e adolescentes, as atividades online não são necessariamente educativas, estando concentradas principalmente no entretenimento. Esse é um importante aspecto da questão: o simples uso da tecnologia não garante um impacto no aprendizado, dado que o acesso à rede ou às ferramentas nem sempre está focado em atividades educacionais. Além disso, a introdução de ferramentas tech nas escolas, hoje, geralmente se concentra no reforço das práticas tradicionais de ensino – em vez do que é realmente necessário para dar um salto na educação, que é aplicar, avaliar e criar conhecimento. Em outras palavras: não adianta apenas deixar o caderno de lado e colocar um tablet no lugar. É preciso mais.
De maneira geral, a tecnologia pode ajudar a enfrentar três principais desafios da educação. Primeiro, o da qualidade do aprendizado. Para isso, os recursos tecnológicos podem ampliar e potencializar o alcance das lições passadas pelos professores, reforçando os conteúdos por meio de vídeos e apoiando experiências de aprendizado lúdicas. Eles também apresentam a possibilidade de personalização, dado que as plataformas podem acompanhar o progresso de cada aluno de uma maneira individualizada, apontando que caminho seguir para alcançar o desempenho desejado.
A partir do uso de tecnologias, também é possível ampliar o acesso de estudantes. Pensando na realidade de um país de dimensões continentais como o nosso, as barreiras geográficas podem não mais ser um empecilho a partir da utilização de recursos simples, como as vídeo-aulas e as plataformas com conteúdos de ensino; com eles, qualquer pessoa, de qualquer lugar, pode ter acesso a conhecimentos e ao aprendizado.
A permanência de estudantes é o terceiro desafio que pode se beneficiar do uso de tecnologias. Transformar o ato de aprender em algo que seja contemporâneo, estimulante, desafiador e atrativo para os estudantes é imprescindível para mantê-los engajados.
A adição da tecnologia nas escolas, é bom fazer o reforço, não significa subtrair os professores. Um estudo de 2016 feito pela consultoria McKinsey relatou que o ensino é uma das profissões menos prováveis de serem completamente automatizadas. Quando usada efetivamente como uma ferramenta para aprimoramento, seu poder é focado em transformar as interações entre alunos e professores, potencializando o aprendizado.
Por onde a transformação deve começar
Para que tudo isso aconteça, antes de tudo, é preciso garantir as bases para o desenvolvimento e o uso das tecnologias. E eles são muitos: coleta de dados, conexão com a internet, desenvolvimento de softwares e também a infraestrutura de hardware, que são os computadores, tablets e outros equipamentos.
O estímulo e financiamento a outros players desse setor é também um ponto crucial: as EdTechs, startups focadas na área da educação, têm papel decisivo em solucionar e otimizar esses problemas. Apenas no Brasil, hoje, somam-se mais de 700 empresas consideradas EdTechs; grande parte delas foca a educação infantil e básica, algo importante para enraizar novas mentalidades; muitas outras criam ferramentas focadas nos adolescentes e jovens; e um número menor faz um trabalho também muito interessante e importante – de incluir crianças das zonas rurais e aquelas que estão fora das escolas por motivos de violência ou abandono.
Algumas dessas startups fazem parte do portfólio de parceiras do BrazilLAB. Uma delas é a Árvore Educação, que disponibiliza mais de 30 mil livros em seu acervo, além de ferramentas de suporte pedagógico aos professores, contribuindo para ampliar o acesso de crianças e jovens à leitura. E o eduq+ da Movva, uma solução baseada em nudgebot, em outras palavras, que busca influenciar de maneira positiva o comportamento dos indivíduos: a ferramenta envia mensagens semanalmente para as famílias, buscando ampliar a participação na vida escolar de seus filhos. Os resultados são relevantes: em seis meses de uso da plataforma, houve um aumento de 15% da participação dos alunos nas aulas e a diminuição em 33% da taxa de reprovação.
Todo esse ecossistema deve ser incentivado a continuar dando suporte e a criar métodos disruptivos de aprender. Os agentes de governo, por sua vez, precisam se abrir para liderar a inovação educacional. O melhor presente para as crianças e jovens pode estar mesmo ligado a um computador, celular ou videogame nesse Natal. Mas não fora da escola, e sim unido a ela em prol da ampliação e da ressignificação do aprendizado.
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