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Letícia Piccolotto

Preservação e desenvolvimento: a tecnologia pode equilibrar a Amazônia

Letícia Piccolotto

26/10/2019 04h00

As startups que atuam nos temas de Biotech e Foodtech, entre outras modalidades, servirão imensamente ao propósito do desenvolvimento com valor social, econômico e ambiental (Foto: Tadeu Jnr/Unsplash)

 

Recentemente tive a oportunidade de participar como palestrante da Feira do Polo Digital de Manaus, para divulgar o Programa de Aceleração do BrazilLAB para startups da região. Em sua segunda edição, o evento trouxe a temática "Manaus Inteligente" como uma forma de reunir diferentes atores e discutir conceitos e soluções para os desafios de educação, meio ambiente, desenvolvimento econômico, entre outros. Foram mais de 400 pessoas presentes e palestrantes de peso, como o apresentador Marcelo Tas e o ex-Presidente da Estônia, Toomas Hendrik Ilves, país que é referência mundial no tema governo digital.

Localizada na região da Amazônia, Manaus se lançou há muitas décadas em uma outra área – implantando o segundo maior parque industrial do Brasil, a chamada Zona Franca de Manaus. Mas uma capital (especialmente uma tão marcante em sua localização geográfica) não deve depender de um só modelo econômico.

Ao longo dos últimos anos, a cidade vem se tornando também um município disposto a buscar diferentes modelos de desenvolvimento, incentivando cada vez mais a pesquisa e a implementação de novas tecnologias. Hoje, ela recebe diversas empresas, institutos de pesquisas e startups e criou recentemente seu polo digital – uma rede que vem oferecendo à comunidade uma visão clara sobre os benefícios da tecnologia aliada à valorização da floresta.

A chamada Revolução 4.0 – tema sempre tratado aqui no nosso blog – que corresponde à transformação trazida pelo desenvolvimento de novas tecnologias, pode ser um caminho eficaz para alinhar o desenvolvimento estratégico e sustentável à preservação ambiental. 

A Amazônia é considerada a região de maior biodiversidade do mundo com mais de 30 milhões de espécies animais e uma ampla diversidade de espécies vegetais. Seu potencial de contribuição à pesquisa é ainda imensurável, além da possibilidade de fortalecimento de atividades relacionadas à bioeconomia, com aplicação em diversos setores: farmacêutico, cosmético e alimentício. Estima-se que apenas 5% da biodiversidade da floresta foi de fato mapeada.

Como bom exemplo desse movimento, foi criado o Projeto Amazônia 4.0, que busca aliar os pilares de desenvolvimento e sustentabilidade da floresta. Criada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), a iniciativa utiliza tecnologias como inteligência artificial, nanotecnologia e blockchain para promover o desenvolvimento da floresta e suas comunidades – e transformar a região em um polo tecnológico e de empreendedorismo sustentável. Desse projeto nascem iniciativas como a Escola de Negócios Sustentáveis de Floresta Tropical, voltada ao desenvolvimento de ações de empreendedorismo no contexto local, e a Amazônia BioBank, um mapeamento de genoma e espécies locais. 

Um mundo a explorar – com inteligência

Considerando tudo isso, as startups que atuam nos temas de Biotech e Foodtech, entre outras modalidades, servirão imensamente ao propósito do desenvolvimento com valor social, econômico e ambiental. Segundo estudos recentes de órgãos como o Liga Insights, o Brasil possui hoje cerca de 300 Agtechs (especializadas no setor agropecuário), 350 Foodtechs e outras tantas startups ligadas a temas similares – todas repensando o modo como a sociedade irá plantar, colher, alimentar e evoluir suas pesquisas científicas nesses ramos. Segundo o relatório The Food Tech Matters, espera-se que o mercado atinja um valor global de 196 bilhões de libras, ou 980 bilhões de reais, em 2022.

Um exemplo de startup que se aprofundou no tema é a BeGreen (que passou pelo programa de aceleração do BrazilLAB em 2016). A startup nasceu para construir fazendas urbanas para produção de alimentos livres de defensivos agrícolas. Sua primeira iniciativa nasceu dentro de um shopping em Belo Horizonte e se tornou capaz de produzir mais de 40 mil pés de hortaliças ao mês.

Apesar da sólida base de clientes – afinal, a agricultura é destinada a, basicamente, os 7 bilhões de habitantes do mundo -, a indústria de alimentos enfrenta desafios na produção, demanda e regulamentação. O foco crescente em mais sustentabilidade, saúde e frescor dos produtos vem pressionando significativamente o mercado por inovação. Imagine, assim, o impacto de soluções tecnológicas e disruptivas aplicadas em regiões que precisam coordenar meio ambiente, demanda da população e desenvolvimento comercial, social e industrial. 

É possível considerar as vocações locais que, aliadas à potência trazida pelos usos de tecnologias digitais, pode ser um caminho frutífero para o desenvolvimento socioeconômico e para a preservação da sociobiodiversidade da Amazônia. Esse deve ser um imperativo para a região e para o país – já que a bioeconomia pode possibilitar o desenvolvimento de estratégias para o mapeamento e utilização consciente dos recursos naturais disponíveis.

Em um momento de intensos debates em torno deste tema, é sempre importante relembrar o compromisso trazido pela sustentabilidade: usar o potencial da geração presente para garantir a sobrevivência das gerações futuras.

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.