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Letícia Piccolotto

Veia digital, criatividade e fim da fome: esta será a sociedade do futuro

Letícia Piccolotto

12/10/2019 04h00

A Sociedade 5.0 será a "Sociedade da Imaginação", na qual a transformação digital se combina com a criatividade promovendo soluções eficientes para problemas antigos como fome e guerras (Foto: Unsplash)

A transformação digital tem trazido mudanças concretas em diversos aspectos de nossa vida em sociedade, seja no trabalho, nas interações pessoais, na medicina, no setor público, na rotina familiar. São inúmeras direções que podem ser seguidas a partir do desenvolvimento tecnológico que vivemos – e escolher os melhores caminhos é algo determinante para o tipo de sociedade que queremos criar. Nesse sentido, estratégias têm sido discutidas como forma de garantir o equilíbrio entre a tecnologia e desenvolvimento humano para nascer, então, a chamada Sociedade 5.0.

A expressão vem sendo utilizada pelos japoneses desde 2016, mas ganhou repercussão no último Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. De acordo com o conceito, a Sociedade 5.0 representa a quinta forma de organização em nossa civilização – seguindo cronologicamente a caça, a agricultura, a indústria e a informação. E essa revolução será a base para criar novos valores e serviços, trazendo uma vida mais rica para todos.

Com base nesse conceito, a Sociedade 5.0 será a "Sociedade da Imaginação", na qual a transformação digital se combina com a criatividade em formatos diversos e vinda de diferentes pessoas e localidades, promovendo soluções eficientes para problemas antigos – como fome, guerras e doenças. 

O conceito traduzido em ações

Talvez essas ideias, à primeira vista, pareçam algo utópico e muito futurista. Mas o cenário é absolutamente real e demandará que governos em todo o mundo construam novas ações em relação a um tema central: a preparação e formação educacional e técnica de seus cidadãos. Essa necessidade deverá ser expandida para outros atores também, incluindo a iniciativa privada, que terá a tarefa de rever seus princípios e promover a educação de profissionais que possam colocar em prática a transformação digital. 

Segundo um relatório do Fórum Econômico Mundial, o Futuro dos Empregos (2018), 75 milhões de funções devem sofrer mudanças em razão da nova divisão entre máquinas e seres humanos – sendo que 54% dos empregados demandarão o desenvolvimento de novas habilidades.

Em contrapartida, as novas tecnologias resultarão em 133 milhões de novos postos de trabalho. O mesmo relatório destaca algumas habilidades digitais emergentes para o contexto brasileiro; as principais são pensamento crítico e analítico, capacidades e estratégias de aprendizado, resolução de problemas complexos, desenvolvimento e design de tecnologias. 

Essas habilidades e competências serão fundamentais também para a inovação no setor público, tendo como foco principal o cidadão, ou seja, a capacidade de construir políticas públicas que atendam de fato às demandas das pessoas. Também serão necessárias competências para o uso das tecnologias, como fluência em dados, curiosidade para formular novas perspectivas, capacidade de interação para experimentar soluções e até mesmo o poder da narrativa (para explicar a jornada aos usuários).

A transformação digital não sugere somente a necessidade de desenvolver novas habilidades individuais, mas também de construir novos arranjos de trabalho e novas formas de colaboração. Ou seja: ambientes menos hierárquicos, flexíveis e com maior autonomia também fazem parte desse novo contexto. 

Construção de habilidades para a Sociedade 5.0

Para alcançar tudo isso será necessário promover mudanças na formação básica, com foco nas crianças e adolescentes, mas também técnica, considerando a atuação de profissionais da área de desenvolvimento de soluções tecnológicas. Para se ter a dimensão do desafio, estudos mostram que 85% dos trabalhos que existirão em 2030 ainda não foram inventados.

Considerando o capital humano, os dados também são alarmantes: uma pesquisa realizada pelo BrazilLAB em parceria com o Centre for Public Impact (CPI) apontou que, em 2019, haverá cerca de 160 mil vagas na área de tecnologia em aberto, sem profissionais capacitados para atender à demanda. 

A notícia positiva é que os temas que envolvem a Sociedade 5.0 estão sendo priorizados também pelo setor público. O BrazilLAB, organização dedicada ao fortalecimento do ecossistema de inovação e startups GovTechs, está atento a essa necessidade e adotou o tema como um dos desafios do atual Programa de Aceleração (conheça mais sobre ele e veja como startups podem se inscrever clicando aqui).

Neste ano, uma das três frentes do programa está em busca de soluções e empresas que respondam como a tecnologia pode apoiar e promover novos empregos na era digital, diminuir a lacuna de desenvolvedores existente hoje no Brasil e garantir o desenvolvimento de competências para a inovação entre as crianças e adolescentes. As organizações que integram a Sociedade 5.0 – sejam elas públicas ou privadas – precisam de uma nova mentalidade para imaginar que tipo de profissionais atuarão no futuro.

A verdade é que, ao contrário do que possa se imaginar, a maioria das habilidades para a transformação digital está muito mais relacionada à capacidade de aprender e se adaptar frente às mudanças. O futuro da sociedade (e a sociedade do futuro) precisa ser um compromisso do presente. Porque não há transformação digital que se sustente sem a participação das pessoas. 

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.