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Letícia Piccolotto

Por que as aceleradoras de startup no Brasil vieram para ficar?

Letícia Piccolotto

21/09/2019 04h00

Startups aceleradas apresentaram maior geração de receita, contratação de funcionários e investimento em equity se comparadas com aquelas que não passam por aceleração (Foto: BrazilLAB)

Os empreendedores criam suas startups e levam tempo até estabelecer os processos e conquistar clientes e o mercado. Não é raro, porém, que logo apareçam dúvidas sobre como desenvolver a empresa, como crescer mais rapidamente e fazer isso de um modo sustentável – especialmente considerando a natureza dos negócios desenvolvidos por startups, quase sempre inovadores, disruptivos e bem distantes dos modelos tradicionais do mercado. Nesse contexto, surgem  as aceleradoras de negócios – organizações que dão suporte para a evolução das startups de maneiras diversas.

Os programas de aceleração começaram a surgir no início dos anos 2000 – na maioria, com recursos oferecidos por órgãos governamentais e instituições privadas. O interesse em fomentar não apenas novos negócios, mas a inovação, rendeu frutos ao redor do mundo. Nesse cenário é que as norte-americanas Emory University e Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) lançaram o GALI, Global Accelerator Learning Initiative, um consórcio de investidores públicos e privados que focou em entender melhor o ecossistema da aceleração. 

Em seu último report, apresentado há algumas semanas, o GALI coletou dados de quase 20 mil startups que operam primariamente na América Latina e Caribe, África, Estados Unidos, Canadá e no sul da Ásia.

As brasileiras

No caso das startups brasileiras que participaram das entrevistas, a conclusão da entidade foi que as empresas aceleradas tiveram ganhos relevantes: apresentaram maior geração de receita, aumentaram o número de funcionários em seus quadros e conseguiram captar investimentos expressivos em equity. A pesquisa traz essas conclusões comparando startups que participaram de programas de aceleração com outras que não passaram pela experiência. Então os dados reforçam o quanto faz sentido contar com esse tipo de apoio. 

Outro fato importante: o desenvolvimento de uma rede de contatos foi o quesito mais citado como principal benefício que as startups brasileiras obtêm com a aceleração – o que é, inclusive, compatível com os resultados da amostra global. Ou seja: participar de programas de aceleração é uma vantagem evidente para aqueles que querem crescer. 

A pesquisa GALI trouxe um outro destaque relevante e, ao mesmo tempo, preocupante: apenas 38% das startups que se inscreveram nos programas de aceleração analisados possuem mulheres em sua equipe fundadora. Essa parece ser uma tendência dominante no ecossistema de empreendedorismo no Brasil. Segundo dados de outro estudo "Relatório Especial –  Empreendedorismo Feminino no Brasil", de autoria do SEBRAE, apenas 34% das mulheres são donas de negócio. Assim, como observado em outros espaços da sociedade, há o desafio de promover a participação de mulheres no mundo da inovação e das startups – e as aceleradoras têm um relevante papel neste projeto, devendo adotar um olhar para a equidade de gênero. 

Aceleração e impacto social 

Podemos afirmar, por experiência própria, que os programas de aceleração não são só capazes de transformar o mundo dos negócios, mas também os governos e a sociedade. Há três anos, quando criei o BrazilLAB, hub de aceleração de startups focado no setor público, não imaginava que 650 startups se inscreveriam com o objetivo de desenvolver soluções para os problemas mais complexos do Brasil. Hoje, 25% das organizações do nosso portfólio já rodam soluções em municípios e estados do país em áreas super estratégicas, como saúde, educação e segurança.

Em 25 de setembro, o BrazilLAB dá início a mais um ciclo do seu programa de aceleração. A nossa quarta edição voltará a atrair startups que possam dar atenção aos problemas enfrentados pelos governos de todo o país. Dessa vez, três áreas serão cobertas: smart cities e urban techs, eficiência na gestão pública e habilidades para a sociedade 5.0.

O tema smart cities e urban techs busca tecnologias para apoiar o uso estratégico de recursos, gerar economia, desenvolvimento e qualidade de vida nas cidades. A formação de profissionais, como programadores, a promoção de competências digitais entre cidadãos e a criação de novos empregos na era digital são desafios que devem ser abordados por tecnologias ligadas ao tema da sociedade 5.0. Finalmente, as soluções que buscam automatizar, digitalizar, reduzir a burocracia, aperfeiçoar a gestão de pessoas e ampliar a transparência das ações do governo se relacionam à temática da eficiência na gestão pública. Nessa edição, poderão ser oferecidas soluções voltadas aos poderes executivo, legislativo e judiciário. 

As inscrições para esse novo ciclo do Programa de Aceleração do BrazilLAB devem ser realizadas pelo site inscricao.brazillab.org.br – elas vão até 18 de novembro. Ao final dos três meses da aceleração, o vencedor recebe ainda um investimento de até R$ 250 mil e participa de uma missão no Vale do Silício, Estados Unidos. 

Programas de aceleração podem incentivar muitas ideias – e o Brasil tem uma força empreendedora incrível. Precisamos colocar essa força a favor da criação de um governo mais eficiente, democrático e transparente. Fica aqui o convite.

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.