Como Portugal deve inspirar o Brasil na construção de um governo inovador
Há cerca de 15 anos, Portugal era um país praticamente amarrado a uma crise de desenvolvimento, dívidas em aumento recorde e altas taxas de desemprego. A mudança, nessa década e meia, foi espantosa: hoje, Portugal está entre as economias que mostram maior ascensão no mundo e é classificado como um dos campeões em inovação. A receita adotada por Portugal compreende a combinação de três principais ingredientes: simplificação de processos, aproximação com instituições de ensino e o fortalecimento do ecossistema de inovação.
Essa reviravolta não teria sido possível sem as startups. Em 2015, Lisboa foi nomeada a região empreendedora do ano pela União Europeia, dada a quantidade de programas para apoiar e aconselhar empreendedores e as ações governamentais para reduzir o tempo necessário para abrir novos negócios. Hoje, esse processo leva 6,5 dias em Portugal; no Brasil, em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o processo leva, aproximadamente, 18,5 dias – segundo dados da pesquisa Doing Business, do Banco Mundial.
De 2015 em diante, o valor total dos negócios de capital de risco em Portugal saltou seis vezes. Hoje, mais portugueses estão optando por abrir suas próprias empresas dentro do país em vez de se candidatar a trabalhar no exterior.
Outro tipo de iniciativa que vem impulsionando a inovação via tecnologia ocorre a partir de instituições como o MIT Portugal. A parceria entre o Massachusetts Institute of Technology, universidades e centros de pesquisa em Portugal vem oferecendo centenas de cursos avançados em áreas como engenharia biomédica, sistemas de energia sustentável, mudança climática. Os estudantes, assim, estão recebendo investimentos – e investindo, se pensarmos bem – no avanço da tecnologia portuguesa.
Riqueza que atrai riqueza
O ciclo de oportunidades só melhora: startups e centros de desenvolvimento digital estão sendo criados em todo o país e motivando a contratação de trabalhadores qualificados. O Google abriu um centro de suporte que criou 500 empregos técnicos para funcionários locais, assim como BMW, Daimler, Volkswagen, BNP Paribas, Bosch, Siemens e muitos outros.
Olhando para todo esse cenário, os investidores estão obviamente otimistas e atraídos pelas ações portuguesas em se colocar como um celeiro de ideias e de negócios. Na verdade, essa onda de confiança continuará a melhorar nos próximos três anos, pelo menos, e poderá superar Alemanha, Reino Unido ou França, segundo pesquisas recentes da consultoria Ernest & Young.
Continuidade e consolidação dos resultados
Um outro destaque trazido pela experiência portuguesa se relaciona à estruturação do governo para a promoção de inovação no país. Tal esforço foi realizado a partir da criação de um Sistema Nacional de Inovação (SNI), da Agência Nacional de Inovação (ANI) e de uma Estratégia de Inovação Tecnológica e Empresarial (2018-2030) – essa última voltada ao estímulo de investimento em pesquisa e desenvolvimento, incluindo o de natureza privada. A existência dessa estrutura dá indícios de que os esforços em prol da inovação estariam pautados por uma lógica sistêmica e mais duradoura, em contraposição a iniciativas mais pontuais e aplicadas a setores específicos de políticas públicas ou do mercado.
É um case relevante para inspirar o Brasil – que precisa de exemplos de visão governamental inovadora para evoluir nesse campo. E haverá uma boa oportunidade ainda este ano para essa imersão no modelo português: o Web Summit Lisboa 2019 acontecerá de 4 a 7 de novembro, e os organizadores desejam criar, como no ano passado, "a maior e mais importante conferência de tecnologia".
Que esse grande ponto de encontro para empresas de tecnologia, startups com propósitos inovadores e profissionais focados em evolução seja um catalisador de ideias e um propagador de ações. De Portugal para o Brasil e o mundo.
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