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Letícia Piccolotto

O que prefeitos podem aprender com empresas como Uber, Airbnb e afins?

Letícia Piccolotto

01/06/2019 04h00

As cidades representam, agora e no futuro, uma grande oportunidade para as startups – afinal, 55% da população mundial vive atualmente em centros urbanos

Cedo demais para falar nas eleições municipais de 2020? Não. Apesar de faltar cerca de um ano e meio para que os votos nesse ou naquele candidato às 5.570 prefeituras brasileiras sejam contabilizados, muitos prefeitos e eleitores já começam a desenhar cenários e projeções.

As discussões nesse momento ainda são de caráter eleitoral e partidário, mas fica aqui uma sugestão de quem está de olho no futuro: é preciso conhecer melhor e entender o efeito causado pelas UrbanTechs e incentivá-las a tornar nossas cidades mais funcionais e humanas.

Aliás, são muitos os termos que levam o "tech" no nome hoje em dia – temos as HealthTechs (saúde), EdTechs (educação) – e essas nomenclaturas nos trazem à mente a ideia de empresas focadas em dados, inteligência artificial e uma série de outros códigos. Mas precisamos falar mais das UrbanTechs.

As cidades representam, agora e no futuro, uma grande oportunidade para as startups. Afinal, 55% da população mundial vive atualmente em centros urbanos e esse número pode chegar a 70% em 2050 segundo a ONU. É onde temos as maiores demandas – e é exatamente onde temos, também, as maiores oportunidades de disrupção e inovação.

Todos sabemos quem são as UrbanTechs, na verdade. Dentre nomes famosos, só para clarear o assunto, estão startups como Uber, Airbnb e WeWork. São empresas que, cada qual em seu nicho, impactaram a vida das pessoas nas cidades, seja no modo de circular, se hospedar ou trabalhar.

A principal diferença entre as UrbanTechs e as GovTechs diz respeito ao modelo de negócio e venda. Enquanto as GovTechs têm o governo como principal cliente (B2G), as UrbanTechs apresentam modelos com foco na iniciativa privada e estratégias visando diretamente o consumidor final (B2C) ou empresas (B2B). O interessante é notar que, no final, os dois grupos estão impactando diretamente a vida do cidadão.

Outro fator interessante quando estamos falando de UrbanTechs é notar o quanto essas startups estão atraindo investimentos mundo a fora. E é um mercado que se retroalimenta muito bem: segundo um estudo recente do Unicef, mais de 2 bilhões de vidas podem ser mudadas com o investimento em cidades emergentes em todo o mundo – e, ao mesmo tempo, gerar até US$ 2 trilhões em receita até 2022.

Também é importante destacar o quanto as UrbanTechs estão impactando e remodelando as legislações municipais. Prefeituras, muitas vezes, não enxergam isso – e atuam na regulação dessas tecnologias de forma tardia, confusa ou passiva. E isso não produz efeito positivo para a população.

Novas empresas ainda serão fundadas e tendências também. Hoje, as UrbanTechs (e seu grande poderio de capital) estão geograficamente agrupadas em um número relativamente pequeno de cidades no planeta.

Mais democracia para as ideias

Segundo o pesquisador e professor Richard Florida, da Universidade de Toronto, a região de São Francisco, nos Estados Unidos, detém cerca de 30% de todo o investimento global de capital de risco em tecnologia urbana. Pequim segue de perto, com 26% dos financiamentos. Nova York é a terceira, com 10%, seguida por Xangai, com 7%. São grupos de localidades, norte-americanas e asiáticas principalmente, que hoje veem nascer as soluções com foco em cidades e investem nelas.

As experiências humanas é que incentivam ideias a se tornarem realidade – e a melhorar o modo como lidamos, nas cidades, com transporte, escolas, sistemas de saúde, coleta de lixo, cultura, segurança e conectividade. Dados recentes de uma pesquisa do American Enterprise Institute sobre a vida em sociedade mostrou que morar em comunidades ou bairros com bons equipamentos públicos e serviços, como bibliotecas, centros de lazer, praças, museus e cafés, afeta positivamente sensações como confiança, sociabilidade e vizinhança; e diminui males como a solidão. Em resumo, cria-se qualidade de vida.

É aí que entra a ação de prefeitos interessados não apenas nas eleições do próximo ano, mas em um legado. São eles que precisam investigar e abraçar movimentos de inovação como as UrbanTechs, visando a construção de cidades mais funcionais e mais humanas.

As cidades tornaram-se as plataformas essenciais para a evolução global e o crescimento econômico – superando até grandes e tradicionais corporações como "organizadoras fundamentais da economia mundial". Mas as cidades, mesmo com exemplos de sucesso, continuam ineficientes em diversos pontos. Elas precisam, realmente, que as inovações aconteçam – e está aí uma grande oportunidade para startups do mundo todo.

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.