Excluir mulheres da tecnologia deixa de gerar 9 bilhões de euros ao ano
Não existem empregos exclusivamente criados para homens e outros para mulheres. Quem trabalhou com computação durante a Segunda Guerra Mundial e até os anos 1970? As mulheres
Esse é um resgate feito por Delphine Remy-Boutang, uma especialista em tecnologia da atualidade, ex-diretora global da IBM e hoje dona da consultoria de mídias sociais The Bureau, baseada em Londres e Paris.
E ela completou, durante entrevista recente:
Ignorar as mulheres nesse setor está prejudicando toda a economia. Calculamos que o PIB europeu ganharia cerca de 9 bilhões de euros por ano se as mulheres dividissem espaço com os homens na economia digital
O número é baseado no volume de riqueza que as mulheres trariam se inseridas na economia digital europeia e incentivadas ao empreendedorismo tecnológico.
Segure essa informação, corte a cena, transfira para o ano de 1815. Foi trabalhando como inventora para o matemático e engenheiro Charles Babbage que Ada Lovelace cravou seu nome na história. Ela é conhecida como a primeira programadora de computadores, quem escreveu o primeiro algoritmo. Não a primeira mulher. A primeira pessoa.
E esse é apenas um exemplo do que Delphine Remy-Boutang quis dizer: não deveria existir, ainda hoje, o desequilíbrio tão evidente entre as posições de trabalho ocupadas no mercado. Especialmente na tecnologia.
Hoje, apenas 20% dos universitários cursando ciências exatas, por exemplo, são mulheres. E é inegável que o assunto não pode apenas ser deixado em espera até que as coisas se igualem por elas mesmas – porque dificilmente isso aconteceria. É preciso mexer com as bases.
Em 2018, o governo francês anunciou um prazo de três anos para empresas com 50 ou mais empregados equilibrarem o pagamento entre mulheres e homens nas mesmas posições. Esse é um modo de atacar a desigualdade que nos faz perder tempo na tarefa de criar um mundo com mais chances e reconhecimento para todos produzirem soluções, mais eficiente e, portanto, melhor.
Maduras para empreender
Oferecer oportunidades é um dos caminhos essenciais. No programa de aceleração deste ano do hub de inovação BrazilLAB (organização fundada justamente para selecionar, prestar mentoria e catapultar startups que possam oferecer soluções ao poder público), o número de mulheres inscritas aumentou bastante.
Elas ainda podem ser minoria (entre os 265 inscritos, 30% eram empresas comandadas por mulheres), mas veja que sintomático: das 32 selecionadas a passar à fase seguinte, o volume de 1/3 se manteve; e agora que elencamos as 20 startups para passar à banca de apresentação aos jurados (e definir em breve uma empresa vencedora), 35% de CEOs do sexo feminino.
Podemos concluir que, quando abraça um desafio e conquista espaço, a determinação feminina se mantém e se expande.
Quando se pensa no empreendedorismo partindo das ideias capitaneadas por mulheres, nem só de salões de beleza é que estamos falando; elas têm possibilidade de operar negócios de todos os tipos, modelos, vertentes, não apenas aqueles associados com o "mundo feminino".
Hoje, ainda existe um preconceito associado às mulheres em áreas exatas, como se elas não pudessem ser analíticas o suficiente. Mas suas habilidades acrescentam muito ao mundo da tecnologia.
Seriedade e foco, o senso de organização, empatia com o outro, cuidado com o coletivo, capacidade de perceber e resolver problemas, inovar nas escolhas e ações: tudo isso faz parte, sim, do "mundo feminino". As mulheres precisam ser mais protagonistas da revolução tecnológica que estamos vivendo.
Precisamos ocupar cada vez mais espaços relevantes não só como programadoras, cientistas, engenheiras, mas também como advogadas, juízas, cientistas sociais que vão contribuir com debates importantes sobre os dilemas éticos que a nossa sociedade já enfrenta com o advento de novas tecnologias. Com mais espaço para as mulheres, ganharemos todos.
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