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Letícia Piccolotto

Inglaterra cria fundo de 20 mi de libras para incentivar eficiência pública

Letícia Piccolotto

04/01/2019 04h00

O fundo de 20 milhões de libras, concedido através de concursos, fornece apoio para definir, desenvolver, testar e acessar ações GovTech

"A parte fácil é fazer as promessas, a parte difícil é legislar para cumpri-las, mas o mais complicado é realmente entregar". É o que diz Oliver Dowden, cujo trabalho, desde sua nomeação como "ministro GovTech" no Reino Unido em janeiro de 2018, foi cuidar da tal complicação.

Alocado no Gabinete do Governo britânico, Dowden é responsável pelo Serviço Digital do Governo (GDS) – uma equipe de especialistas digitais que trabalha para trazer novas tecnologias e formas de trabalhar para a burocracia (e de minimizá-la, claro). Há alguns anos, a Inglaterra vem se fortalecendo na área GovTech a ponto de virar uma referência nessa pauta.

Nesse sentido, também foi designado à Oliver Dowden construir pontes para o setor de tecnologia. Muitas vezes, e nós brasileiros sabemos bem, empresas pequenas e inovadoras como as startups sofrem certos bloqueios para se aproximar dos contratos governamentais. São processos de aquisição complexos ou tantos obstáculos legais que isso desestimula a adoção de novas formas de entregar serviços ágeis ao cidadão. Na Inglaterra também era assim. Mas a coisa vem mudando – porque a mentalidade mudou.

Como captar mais startups interessadas em GovTech é uma das funções do ministro, foi criado um portal online por meio do qual empresas do ramo da tecnologia podem acessar e se candidatar a contratos governamentais. É um canal oficial para o GovTech – e uma saudável competição, com desafios e financiamentos definidos claramente pelo governo.

Tudo isso acontece, então, por um programa criado pelo gabinete. O GovTech Catalyst apoia startups nessa tarefa de encontrar soluções inovadoras para serviços operacionais e desafios de entrega de políticas públicas. O fundo de 20 milhões de libras, concedido através de concursos, fornece apoio para definir, desenvolver, testar e acessar as ações.

Startups no comando

Isso já está fazendo com que a Inglaterra se abra para novas formas de fazer negócios. Por exemplo: em agosto, Oliver Dowden anunciou que, desde 2012, quase metade dos gastos do setor público em serviços digitais vêm sendo levados adiante por pequenas e médias empresas.

O resultado prático da onda GovTech no Reino Unido é que o número de startups vem crescendo em todos os setores – e, recentemente, cinco delas receberam contratos para colocar tecnologia mesmo em regiões distantes dos grandes centros (porque o cidadão de toda parte deve ser bem atendido).

Startups como Box Clever e Zipabout criaram plataformas para atender à oferta e à demanda de transporte nas áreas rurais, por exemplo, além de atacar o risco de exclusão digital entre pessoas mais velhas e aquelas em áreas mais isoladas.

Em novembro, falando na Digital Leaders Innovation Conference, em Londres, Oliver Dowden disse estar contente pelo financiamento para empresas de tecnologia inovadoras ajudar a combater a solidão e o isolamento rural. "(Nossa função é) melhorar a vida das pessoas e permitir que elas se sintam parte da comunidade", resumiu.

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.