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Letícia Piccolotto

Saúde pública pede uma dose de tecnologia

Letícia Piccolotto

07/12/2018 06h00

A digitalização na saúde empodera, dá mais autonomia e é muito mais conveniente aos pacientes – e é um apoio e tanto em diversas frentes

É claro que muitos setores comemoram as grandes vantagens que a tecnologia, de modo geral, e a internet, em particular, trouxeram para o cotidiano. A saúde, no entanto, deve ser um dos que mais se transformaram a partir de novas ferramentas. Aliás, seria bom inovar ainda mais nessa área: cuidar da vida humana está ao alcance de um clique e governantes conectados com a realidade podem e devem liderar esse movimento.

Até porque, é assim que a saúde vai evoluir e chegar, de fato, a quem mais precisa. Hoje, cerca de 65% da população brasileira recorre ao Sistema Único de Saúde, público e gratuito, para consultas, exames, cirurgias. Que a iniciativa privada caminha com a tecnologia a passos largos, todos sabemos; levar isso à maior parte do povo é um desafio a abraçar. Mas já existem exemplos acontecendo – e são ótimos para seguir.

Em Juiz de Fora, Minas Gerais, uma startup vem mostrando bem essa capacidade cada vez mais evidente de que é pela tecnologia que se organiza, trata e principalmente previne e resguarda a saúde das pessoas. A CUCO Health nasceu pela ideia da empreendedora Lívia Cunha, criadora de um aplicativo que pode ser identificado como uma "enfermeira virtual".

A empresa desenvolveu o app (gratuito) para smartphones que ajuda pacientes, principalmente os que apresentam doenças crônicas, a garantir a correta administração de medicamentos para prevenir estágios mais graves de doenças. A solução foi implementada na prefeitura da cidade mineira e já está em 63 Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Parece algo simples? Simples e genial. Afinal, pessoas que controlam sua saúde de perto fazem menos consultas emergenciais (reduzindo filas), ficam menos internadas (reduzindo custos) e vivem melhor.

Startups podem tirar os pacientes da espera

A digitalização na saúde empodera, dá mais autonomia e é muito mais conveniente aos pacientes. O bom é que isso não serve apenas a casos crônicos, que demandam o controle, mas para diversas pessoas: quem quer melhorar alimentação, quem precisa parar de fumar e tantos outros casos têm em muitos aplicativos e sistemas um apoio e tanto. E isso também é uma pauta GovTech, já que influencia diretamente no bem-estar do povo.

O olhar do poder público para essas boas ideias é uma estratégia de inovação capaz de acelerar e otimizar muitos processos. E que precisar ser desenhada com base em dados colhidos dentro do próprio SUS, por exemplo. Startups, companhias farmacêuticas, fornecedores de equipamentos vêm apresentando suas soluções: governos municipais, por sua vez, podem muito bem focar nisso e trazer para o setor público as ótimas ideias o que todos esses agentes sugerem.

Um outro exemplo: enquanto bancos de sangue sofrem com baixos estoques em tantas partes do país, muitos doadores deixam de contribuir simplesmente porque não sabem como se fazer úteis. E é aí que entram aplicativos como o +Sangue e o Hemoliga.

São startups que construíram bases de cadastro de doadores e que têm acesso aos estoques de bancos de sangue de alguns hemocentros e instituições hospitalares. Os aplicativos, então, podem convocar doadores que possuem tipos específicos para doar quando há falta, assim como avisar aos cadastrados que eles já estão aptos a doar sangue novamente depois de certo período.

Ideias surgem por todos os lados. Agora é o poder público se apropriar delas para levar a população brasileira a tempos melhores.

Sobre a autora

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, a única plataforma brasileira que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público.

Sobre o blog

Acelerar ideias e estimular uma cultura voltada para a inovação do setor público. Este é um blog para falar de empreendedores engajados em buscar soluções para os desafios mais complexos vividos pela sociedade brasileira.